terça-feira, 4 de janeiro de 2011

as normas europeias têm as costas largas

Como o governo esconde os números reais do desemprego em Portugal

O governo tem procurado esconder a verdadeira situação do desemprego em Portugal (Sócrates, na sua mensagem de Natal, não fala uma única vez do desemprego) tentando fazer passar a mensagem junto da opinião pública que se está mesmo a verificar uma tendência quebra. E isto apesar do INE ter divulgado, no 3º Trim.2010, que o desemprego oficial atingiu 609,4 mil, e o desemprego efectivo, calculado também com dados do INE, alcançou 761,5 mil portugueses. Para anular os efeitos destes números, o governo tem utilizado o desemprego registado divulgado mensalmente pelo IEFP. O Secretário Estado do Emprego manifestou mesmo “satisfação” com este em declarações à Lusa, em 17.12.2010. Por isso, interessa explicar quem é abrangido e como são construídos os dados que o governo utiliza depois na suas declarações.

(...) Para concluir basta fazer as seguintes contas: Segundo o IEFP, no dia 1 de Jan-2010 existiam inscritos nos Centros de Emprego 524.674 desempregados. Entre 1 de Jan.2010 e 30 de Nov-2010 inscreveram nos Centros de Emprego 631.972 novos desempregados e, durante o mesmo período, os Centros de Emprego arranjaram trabalho só para 65.828. Logo somando 524.674 (número existentes em 1.1.2010) a 631.972 (novos desempregados que se inscreveram) e subtraindo 65.828 (número de desempregados que os Centros arranjaram trabalho) obtém-se 1.090.818. Era este o número de desempregados inscritos que devia existir em 30.11.2010. No entanto, o IEFP divulgou que nessa data só existiam inscritos nos Centros de Emprego 546.926. Consequentemente desapareceram dos ficheiros dos Centros de Emprego, entre 1 Jan-2010 e 30 Nov-2010, 543.892 desempregados. O IEFP fez esta limpeza sem divulgar no boletim que publica mensalmente as razões dessa eliminação, o que levanta naturalmente sérias dúvidas sobre a credibilidade dos números do desemprego registado que divulga mensalmente utilizados depois pelo governo.

Este é o resumo de um estudo do economista Eugénio Rosa, publicado no 5dias (carregados meus).

Isto mostra bem o nível de desrespeito que ensombra este país de merda, mas pronto, há sempre o INE e é impossível fugir aos números.

Ou era...

Estatísticas do emprego deixam de ser directamente comparáveis com os dados existentes

O INE está a introduzir alterações no método de recolha de informação para as estatísticas do emprego, que passará a ser feita por telefone, inviabilizando comparações directas com as estatísticas anteriores, num momento em que o desemprego regista um pico histórico no país e em que se perspectiva que continue a aumentar.

(...) Estas alterações implicam aquilo que tecnicamente se designa por “quebra de série”, devido precisamente a os novos dados não terem as mesmas características de recolha dos anteriores e por isso não serem directamente comparáveis com eles.

O INE explica que o novo método “exigiu a introdução de alterações no questionário do Inquérito ao Emprego”, a partir do qual divulga trimestralmente dados relativos ao desemprego no país e a outros aspectos do mercado de trabalho. Para além das adaptações decorrentes da inquirição por telefone, o INE procedeu também à “racionalização do conteúdo” do questionário e à “adopção integral das orientações entretanto emanadas nos Regulamentos Comunitários para o Labour Force Survey”.

Não questionando a validade estatística do novo método, arrisco armar-me em Zandinga e diria que lá para Abril/Maio vamos ter uma diminuição dos números de desemprego apurados pelo próprio INE e veremos pela primeira vez o primeiro-ministro, com pompa e circunstância, referir-se a essa diminuição, em vez de se referir aos números do IEFP, como vem sendo habitual. Apesar de não serem comparáveis.

E a malta leva no cu e parece gostar.

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