quinta-feira, 30 de maio de 2013

CGUA 5 - Do Associativismo

Já que andam todos com o associativismo na boca, vamos aflorar o tópico.

A liberdade de associação é um direito constitucionalmente consagrado. Até aqui, todos de acordo (ainda não perguntei aos credores internacionais).

Estatutariamente, a Universidade de Aveiro só reconhece como legítima representante dos seus estudantes uma entidade: a Associação Académica da Universidade de Aveiro. Até aqui, todos de acordo (da boca para fora, pelo menos).

Na prática, existem várias associações sedeadas na UA cujas actividades são total ou quase totalmente orientadas para os estudantes, mas que não fazem parte da estrutura da AAUAv.

Daqui resultam problemas de vária ordem:
  • enquanto que qualquer aluno matriculado na UA tem direito a participar na vida associativa, a eleger e a ser eleito para os órgãos sociais da AAUAv, existem outras organizações estruturadas de forma diferente, inclusivamente impondo restrições à entrada de novos membros e não lhes atribuindo à partida todos os direitos de participação (e mesmo pérolas aberrantes plasmadas em estatutos acerca das quais gostaria de consultar o Bastonário Marinho);
  • enquanto a AAUAv tem todos os seus estatutos e regulamentos acessíveis ao público e tem as suas contas auditadas externamente, esse grau de transparência não é perceptível na totalidade das organizações sedeada na UA;
  • acaba por verificar-se um desvio de recursos, que deviam estar ao dispôr de todos os estudantes, para grupos fechados, efectivamente prejudicando o interesse comum;
  • surgem discrepâncias no reconhecimento das actividades extracurriculares dos alunos, na medida em que um dirigente de um núcleo da AAUAv (por muito activo que seja) apenas é reconhecido como Agente Associativo, enquanto que um dirigente de uma associação (por muito inactivo que seja) pode ser reconhecido como Dirigente Associativo.
A estes problemas soma-se um bem maior, que é a pulverização do movimento associativo, e a crescente incapacidade de os estudantes falarem a uma só voz numa altura em que as condições para estudar neste cantinho à beira-mar plantado vão de mal a pior.

Quando se discorda do rumo adoptado por uma Direcção da AAUAv ou por uma coordenação de um núcleo, a postura correcta, a meu ver, é ter uma participação mais activa, uma postura franca que contribua para melhorar a vida académica. A criação de estruturas paralelas de representação estudantil combina o pior de dois mundos: não se resolve um problema (por exemplo, suponhamos, de gestão de recursos) e cria-se um problema adicional (duplicação de esforços em altura de contenção, digamos).

Não questiono o direito de alguém formar uma associação. Este país vive, sempre viveu e sempre viverá de voluntários nas mais diversas áreas. Gosto de ver a malta a organizar-se e a dar o seu tempo para o bem comum.

O que acho absolutamente inadmissível é que a UA contribua para minar a bases do movimento associativo. Aos representantes dos discentes no Conselho Geral, exige-se uma postura firme, intransigente, contra esta atitude da instituição.

Por outro lado, acho inadmissível que, ao lutar contra um enviesamento do sistema, se despeje o petiz com a água do banho e se acabe por alienar uma série de pessoas, colegas, estudantes, voluntários, que procuram estruturas onde possam desenvolver as suas capacidades e perseguir os seus interesses. Pessoas que devotam o seu tempo ao bem comum e não podem ser desrespeitadas.

A tarefa mais difícil caberá sempre à estrutura da AAUAv - não apenas à Direcção - que é saber criar espaço e condições para agregar em si todas as facetas do voluntariado nesta academia. Lembrando também que foi a própria AAUAv (a instituição, por intermédio dos seus dirigentes), nalguns momentos num passado mais ou menos distantes, a responsável por afastar esses estudantes, ou outros antes de si, desta comunidade que se quer rica e participativa.

Agradeço comentários :)

CGUA 4 - impressões do primeiro debate

Fui com bastante gosto que fui assistir ao debate entre os candidatos da Circunscrição I. Já há muito tempo que não mandava umas papaias e há sempre uma réstia de esperança na capacidade das pessoas de usar um debate como forma de clarificar posições e esclarecer o público.

(Boa piada, não foi?)

Pois bem, o que vi foi uma audiência razoável, mas povoada principalmente pelas claques. Já ando nisto há tempo suficiente para saber que isso é o cenário mais comum, e normalmente descamba em aplausos e apupos que apenas dificultam o normal decorrer do processo. Sobrou para o amigo Recha, como expectável. Ainda assim, não correu muito mal.

Da parte do André Reis, candidato pela Lista A, vi o que esperava. O homem jogou ao ataque, tomou conta do palco, afirmou, acusou, atropelou. O domínio táctico permitiu condicionar o adversário, mas também teve um efeito perverso. Pelo menos em duas ocasiões perdeu boas oportunidades para declarar unilateralmente breves tréguas e completar a prestação com uma postura pedagógica e esclarecedora acerca de assuntos levantados pelo público.

Da parte do Luís Borges, candidato pela Lista E, não vi o que esperava. Pareceu claramente condicionado pela postura ofensiva do oponente e manteve um registo um bocado monocórdico. Tendo em conta a vasta experiência no movimento associativo, ficou aquém do contributo que poderia ter dado. A espaços conseguiu passar a sua mensagem - mas essa continua a ser demasiado vaga para o que se pretende, na minha modesta opinião.

O tópico central foi o associativismo na UA - e esse merece uma análise separada - e a relação das candidaturas com os órgãos sociais da AAUAv teve grande destaque. Entretanto não faria mal começarmos a tentar perceber como gravar na pedra o modo como se relacionam os membros discentes no CG e a AAUAv. Já li por aí a questão "cadê a independência dos alunos no CG?" mas devo dizer que o que me interessa é ver os interesses dos estudantes bem representados e defendidos, quer por uns, quer por outros. No fim do dia, as AGAs servem para alguma coisa, mas são pouco frequentadas.

Notas dispersas:
  • uma pergunta exige uma resposta; as merdas podem estar escritas no manifesto, mas se só o manifesto fosse suficiente, não valia a pena andarmos a organizar debates só para compararem o tamanho das pilinhas!
  • será que não há uma alma nesta academia capaz de citar uma frase genérica e depois dar um exemplo concreto, mesmo sem se comprometer?
  • eu acho o formato limitativo, mas é uma consequência da forma mais comum de fazer política nos dias que correm: entalar o adversário e marcar um pontinho ou dois - ora porra!
Felicitações ao NEECT por assumir a transmissão do debate, pese embora a má qualidade reportada por diversos utilizadores. Abata-se o técnico de som e daqui a bocado lá estaremos outra vez.

CGUA 3 - o filme do primeiro debate

Cortesia do NEECT, fica aqui a gravação do debate entre os candidatos da Circunscrição I, André Reis (Lista A) e Luís Borges (Lista E).


CGUA 2 - o que diz a má língua

Para as pessoas que gostam se simplificar, de generalizar e em geral achincalhar o processo democrático, deixem-me ajudar.

A Lista A é transplantada da anterior Direcção da AAUAv.
A Lista E inclui o Mestre do Salgado e outro proeminente figurão da praxe.

Espero que isto tenha ajudado a validar as opiniões de quem acha que isto é tudo a mesma merda e de qualquer maneira se ia alienar do processo. Ide ver o que é feito do pai da Fanny e desamparai a loja.

Para os outros, a quem de facto interessa saber o desfecho da coisa: stay tuned.

CGUA 1 - o que para aí anda

Depois da minha pobre tentativa de serviço público, aqui vão mais umas ligações:

  • Lista A "Valorizar a UA" no facebook
  • Lista E "A voz do Estudante" na web e no facebook
  • página dos Debates, evento no facebook
  • uma interessante página de relatos e comentários no facebook
Alguém nota algum padrão?

Eleições para o Conselho Geral da UA

Para os mais desatentos, fica o lembrete: há processo eleitoral em andamento na UA.

As eleições para o Conselho Geral, órgão máximo de governo da Universidade de Aveiro, terão lugar no dia 6 de Junho de 2013.

Para maior esclarecimento, há debates. Transcrevo:

No âmbito da Eleição dos Membros Discentes do Conselho Geral da Universidade de Aveiro, informam-se os membros da comunidade académica que se irão realizar os seguintes debates eleitorais, pelas 21h00, no Auditório do Edifício Central e da Reitoria da Universidade de Aveiro:
Dia 28 de Maio, 3ª Feira - Circunscrição I
Dia 30 de Maio, 5ª Feira - Circunscrição II
Dia 3 de Junho, 2ª Feira - Circunscrição III
Este debate poderá ser acompanhado em direto, em: http://neect.ieeta.pt/cg/.

Para mais informações acerca do processo eleitoral, podeis visitar esta página.

Isto é a vertente institucional da coisa, vou já elencar mais umas coisas giras de ler.

breve regresso à blogosfera

Para mitigar o abandono a que votei esta minha (nossa) caixa de sabão, permito-me voltar a blogar um pouco a respeito de um assunto que vai marcando certas e determinadas agendas.

Entretanto, aproveito para anunciar que aderi ao microblogging, aceitando o desafio de mandar posta de pescada a toda a vitesse em 140 caracteres. É giro e tal, mas há dias em que as diatribes pedem algo mais elaborado.

Até já.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

contas de merceeiro

A propósito da situação pingo doce, três notas:

1- os proprietários da cadeia de distribuição fogem aos impostos; essa quebra de receita fiscal é compensada pelo aumento de impostos sobre o conjunto da população; será que a quebra de poder de compra ao longo de um ano é sequer compensada com a poupança obtida nas compras com 50% de desconto?

2- não era de denunciar ao regulador a narrativa "não temos promoções, só preços baixos" como publicidade enganosa?

3- o Presidente do Conselho Geral da Universidade de Aveiro goza de muito boa imprensa, só comparável ao tratamento que A Bola dá ao SLB.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

critérios jornalísticos lusitanos

Manuel Monteiro é doutor com 18 valores e “distinção e louvor”

O antigo líder do CDS Manuel Monteiro defendeu nesta quarta-feira a sua tese de doutoramento sendo aprovado com 18 valores “por unanimidade” e com “distinção e louvor também por unanimidade”, tendo o presidente do júri, o reitor da Universidade Lusíada, Diamantino Durão salientado ainda o “valor científico da tese e a qualidade da sua defesa pública”.

O que é realmente importante é que o senhor é Doutor e todos lhe devem prestar reverência enquanto tal. Isto é um país em que o importante é ser Doutor - ou pelo menos, Dr., título agora ao alcance de jovens de 21 anos. Só mais abaixo no texto se descobre em que campo o homem se doutorou. Mas isso não interessa. É Doutor.

Lembra o Almeida Santos a falar do Avô Cantigas...

PS: decidi tirar o pó a este espaço de opinião precisamente porque alguém decidiu tirar o pó ao Manuel Monteiro. Que saudades!

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

o paquistão também tem o seu gaspar

Pakistan considers taxing Nato Afghanistan trucks

Pakistan is considering charging millions of dollars in annual taxes on Nato trucks and fuel tankers, officials have told the BBC.

The vehicles pass through Pakistan on their way to Afghanistan.

The charges might include taxes on fuel in addition to port and storage fees, they said.

The supply route is a lifeline for Nato troops but Pakistan closed it last month after 24 of its soldiers were killed in a Nato air strike.

Thousands of tankers are now stranded.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

a bem da união

Como cidadão europeu, deixo um apelo aos mercados: se vou andar a ser comandado por uma senhora do Norte da Europa com um chicote, posso ao menos escolher a primeira-ministra da Dinamarca?


Nem o velho Silvio ficou indiferente...

a crise como oportunidade

Para aqueles de vós que ainda andam a tentar perceber quais os limites da vossa zona de conforto, eis o guião da fita a que assistiremos num futuro próximo, sem tugir nem mugir, como é luso apanágio.

Começamos com a total subversão das regras democráticas na União Europeia, por imposição dos mercados que nunca nos foram apresentados.

Grupo de Frankfurt, o esquadrão de intervenção da Europa

A antiga Ópera de Frankfurt – em tempos, a mais bela ruína do pós-guerra da Alemanha e agora a sua recriação mais impressionante – tornou-se um símbolo do renascimento europeu. Foi aí que, no mês passado, Angela Merkel e Nicolas Sarkozy se reuniram com a elite burocrática da União Europeia, no que seria, noutros tempos, descrito como um golpe palaciano.

Fartaram-se de cimeiras da zona euro, com líderes vindos daqui e dali, para não chegarem a lado nenhum. Queriam formar um grupo mais pequeno, que exercesse o poder com firmeza, mas informalmente. Nessa noite, quando se reuniram para ouvir Claudio Abbado dirigir a Orquestra Mozart de Bolonha, nasceu um novo esquadrão de intervenção da UE.

(...) Quando Merkel falou, admitiu frustração em relação às cimeiras europeias e aos seus complexos mecanismos democráticos. "A capacidade de intervenção e de margem de manobra da UE revelou-se lenta e complicada", queixou-se. "Se queremos aproveitar a crise como uma oportunidade, temos de estar preparados para agir mais depressa e até de formas não convencionais." Sarkozy chegou atrasado, mas a tempo de participar no concerto da década.

Também presentes estavam o novo presidente do BCE, Mario Draghi, um italiano com pouca estima por Berlusconi. E Christine Lagarde, a nova presidente (francesa) do Fundo Monetário Internacional, que tem comandado as operações de recuperação de países em aflição e que não se coíbe de impor condições humilhantes (como fez com Berlusconi).

Estava José Manuel Durão Barroso, o cada vez mais aniquilador presidente da Comissão Europeia e o seu parceiro para as questões económicas Olli Rehn. O omnipresente Jean-Claude Juncker, primeiro-ministro do Luxemburgo e chefe do grupo das 17 nações da zona euro, apareceu com Herman Van Rompuy, eleito presidente da UE por não ter opiniões sobre nada.

(...) A democracia é vista com desconfiança – até mesmo aversão – pelo Grupo de Frankfurt, tal como pelos mercados. Os pontos de vista pessoais de Juncker sobre os irritantes eleitores ficaram famosos, desde que expressou o problema da governação da seguinte forma: "Todos sabemos o que fazer, mas não sabemos como ser re-eleitos depois de o termos feito”.

Estamos agora a ver uma solução para o problema de Juncker: nomeiam-se vários dirigentes que, logo à partida, não foram eleitos e que não vão andar à procura de votos para nenhuma re-eleição – e põem-nos a fazer o que se pretendia.

Nada neste cenário é perturbador para a maioria dos democratas. Aliás, quem é capaz de imaginar qualquer tipo de problema que possa surgir quando a Alemanha decide subtrair soberania a Estados vizinhos? Não, tudo a bem da Europa dos mercados, nada contra a Europa dos mercados.

Ultrapassada a barreira democrática e traçado o plano de acção, falta conhecer os salvadores das Pátrias que nos pariram. Pesos-pesados capazes de combater a crise.

Goldman Sachs, o banco que nos quer bem

(...) Os seus críticos acusam esta rede de influências europeia tecida pelo banco norte-americano Goldman Sachs (GS) de funcionar como uma loja maçónica. Em graus diferentes, o novo presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, o presidente designado do Conselho italiano, Mario Monti, e o novo primeiro-ministro grego, Lucas Papademos, são figuras totémicas das malhas apertadas dessa rede.

(...) O primeiro foi vice-presidente do Goldman Sachs International para a Europa, entre 2002 e 2005. Era o "associado" que tinha a seu cargo o departamento de "empresas e países soberanos", o mesmo que, pouco antes da sua chegada, tinha ajudado a Grécia a camuflar as suas contas, graças ao produto financeiro "swap" sobre a dívida soberana.

O segundo foi conselheiro internacional do Goldman Sachs, de 2005 até à sua nomeação para a chefia do Governo italiano. De acordo com o banco, a sua missão era dar pareceres "sobre os assuntos europeus e os grandes dossiês de políticas públicas mundiais". Mario Monti foi um homem que "abriu portas", um homem cuja tarefa consistia em penetrar no centro do poder europeu para defender os interesses do GS.

O terceiro, Lucas Papademos, foi governador do Banco Central grego entre 1994 e 2002. Nessas funções, desempenhou um papel não esclarecido na operação de camuflagem das contas públicas levada a cabo com a ajuda do Goldman Sachs. Além disso, o responsável pela gestão da dívida grega é Petros Christodoulos, antigo corretor do banco norte-americano em Londres.

Quem melhor para nos tirar da crise que os indivíduos que melhor a conhecem, por lhe estarem na génese? Mas alguém vê um conflito de interesses aqui? Decerto que não, aliás, o currículo de cada um será incensado por forma a constituir um garante de credibilidade e estabilidade junto dos mercados.

Problema deles? Pois. Nós ainda temos tempo. Mas não muito. Enquanto os amigos do Gaspar vão lavrando caminho, vai ficando cada vez mais claro que não durarão muito no seu poleiro. A receita leva ao desastre, e todos o admitem mais cedo ou mais tarde. Chegando o desastre, os amigos do Gaspar serão apeados, haverá um discurso catastrofista, seguir-se-á uma coligação de Salvação Nacional em que participarão os ex-amigos-agora-apenas-vagamente-conhecidos do Gaspar mais os invertebrados do PS (o P é de partido e o S ficou na gaveta) e a parte mais sumarenta disto tudo é... QUEM SERÁ O ESCOLHIDO?

Procura-se um gajo do partido com maioria no Parlamento, indigitado sem ser eleito (que isso de eleições já não se usa), com currículo, de preferência na Goldman Sachs, que ponha um semblante pesaroso e se encarregue de levar toda a colheita e ainda deite sal na terra para que nada mais lá volte a crescer. E parece que há um que ficou subitamente disponível.

...

Camarada, amigo, palhaço deste circo que é a vida: se chegaste até aqui, parabéns, deves ter sido o único e provavelmente já estavas convencido. Mas enfim, com muita dranguilidade te relembro...

HÁ ALTERNATIVA!