quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Eurocratas

Parece que não vai haver referendo. Como esperado. Para salientar a pobreza dos argumentos, aconselho estas leituras que tocam no assunto. Mas queria abordar outra questão...

Escreve Ana Gomes, no Causa Nossa: Quem por cá clama por referendo, estará preparado para um a sério sobre a questão de fundo – “sim ou não a Portugal na UE”? Nesse, eu alinho já.

Sucede que eu sou um cidadão europeu. Maior, vacinado e recenseado. Eu experimentei as potencialidades e insuficiências de Schengen em pessoa. Eu andei às voltas por essa Europa fora. Eu tenho noção das vantagens da integração europeia, tarefa tanto mais interessante quanto mais nos lembrarmos das aulas de História, e pensarmos em todas as guerras entre tantos povos diferentes que o continente viu (e continuará a ver, a minha próxima aposta é o Kosovo).

Eu sou um cidadão europeu e quero ter uma palavra a dizer sobre a Europa que quero. Porque não há apenas um caminho para a integração europeia. O que dá mais jeito a uns vai acabar por prejudicar outros. Prefiro direitos laborais ao nível da Alemanha do que ao nível da Letónia. Prefiro um Parlamento Europeu com verdadeiros poderes, em vez de se limitarem a legislar sobre colheres de pau, justificando essa nova moda da ASAE. Prefiro um sistema duplo em termos de poder de voto dos diferentes países: um voto por país, e um voto por cabeça (ou centena de milhar de cabeças). Prefiro menor cegueira em questões orçamentais, que têm vindo a arruinar este país. Prefiro um Banco Central Europeu menos vidrado na questão da inflação.

Prefiro outra Europa. Por isso quero um referendo, porque sou contra este modelo e quero expressar-me contra ele. Democraticamente.

O que Ana Gomes, Vital Moreira e outros que tais não conseguem perceber é isto: diferença de opinião. Não somos todos ignorantes, alguns de nós pensam pela sua cabeça e percebem vantagens e desvantagens dos processos de construção europeia. Eu não quero esta Europa. Quero outra Europa. Mas quero Europa na mesma! Infelizmente eles consideram-se os Iluminados. Ora tem vindo a notar-se que, tendo em conta o seu peso e as suas responsabilidades na vida pública, se percebessem alguma coisa do interesse nacional, este país não estava na merda em que está.

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