quarta-feira, 5 de agosto de 2009

leaving 504

504 em numeração romana é DIV. DIV pode significar, entre outras coisas, 'Desquamative Inflammatory Vaginitis'. Não sei bem onde quero chegar com este raciocínio.

Abandonámos o célebre apartamento 504, que por sinal estava amaldiçoado. Pese embora a boa onda que nele reinava, o facto é que, ao longo destes 2 anos, houve muita coisa má a acontecer. E muita coisa boa, claro. Vamos a ver se me lembro das mais marcantes, algumas das quais já aqui referidas.



Logo a abrir...

Visitei o apartamento, ainda lá viviam as anteriores inquilinas (boa gente), ao chegar duma longa viagem. Acabaria por tornar-me eu próprio inquilino em Setembro de 2007. Houve logo merda, que por sinal até esparrinhou. Esse episódio acabaria por marcar o nosso sentido de humor, e até outras facetas do quotidiano, com referências repetidas e escusadas a extintores.

Talvez esta tenha sido a primeira machadada na minha vidinha confortável. Desde então divorciei-me, perdi o automóvel, não fiz cadeiras nem apresentei projecto, tenho muitos mais cabelos brancos e estou completamente fora de forma. Cortei um dedo, torci um pé, tive uma intoxicação alimentar e levei o meu 2CV à exaustão. E isto fui só eu.

Obras e vizinhança

Sempre me senti rodeado de loucos, quer dentro quer fora do apartamento propriamente dito, quer ocasional quer permanentemente. Bons exemplos seriam a vizinha desafinada (talvez a mesma que gemia mais alto do que a cama rangia) e os gajos que vieram instalar o gás, não esquecendo o mete-nojo de serviço, o imperador do condomínio, a quem tive de mandar apanhar no cu em várias ocasiões. Assim de repente também me recordo do maníaco do berbequim, dos diversos técnicos de elevadores que nos visitaram (hopeless) e dos evangelistas que me sujavam a entrada com a palavra do Senhor.

Convém referir que nem tudo é mau, e tive o prazer de conhecer muita malta porreira lá no prédio, em especial os vizinhos de baixo. À parte a ocasional festa descontrolada, sempre foram uns porreiros e estão de guarda ao aspirador...

Sporting!

Uma das vertentes agridoces terá sido a prestação do Sporting Clube de Portugal. Lá em casa era só lagartos, até o meu maninho cometer a loucura de se juntar ao pagode. Não durou muito. A planta foi baptizada de Glória, e a decoração sempre foi escolhida em tons de verde e branco (fora o movimento kitsch - já lá irei). Por isso mesmo esperávamos mais do Paulo Bento e dos seus petizes. Em vez disso, tivemos um famoso DJ a tentar incendiar a sala, a dado ponto, motivado por um potente cocktail de bebidas destiladas, estupefacientes e clubite aguda.







Arruinados

O balanço terá que ser sempre positivo se tivermos em conta o que este período significou em termos de ruína para o corpo e a mente. Muitas madrugadas passei eu (e outros) a fazer tempo até a padaria abrir, para sacar a minha dose de folhados, essencial ao organismo massacrado pela constante celebração da Causa. Muito rosto cadavérico me foi dado observar entre o acordar e o sentar numa mesa do Ramona. Claro que arrochar naqueles sofá tinha um preço.







movimento kitsch

A grande falha da nossa parte foi nunca ter arranjado um quadro do Menino da Lágrima. De resto, houve um esforço continuado para aperaltar aquele antro com peças de gosto, vá, duvidoso. O gajo do espelho foi a grande personagem, mas as prendas da festa de Natal também subiram a fasquia.

Desistências

O puto abandonou. Ser introduzido às lides aveirenses enquanto se vive em casa assombrada não pode correr bem. Entretanto a coisa ficou financeiramente onerosa, continuava a cheirar a gás de vez em quando, o esquentador estava rebentado, duas das camas também, a porta do frigorífico estava segura com uma rolha de cortiça. Os sofás foram colapsando até o chão ser mais confortável e ninguém estava a ganhar nada com isso. E nisto abandonámos todos, pronto.

As mudanças foram novamente um processo alucinante, e não fosse a preciosa ajuda dum apreciador de humor negro ainda hoje não teríamos retirado toda a tralha lá de casa (agora que penso nisso, ficaram lá coisas). Até ao último instante a maldição me perseguiu, e o meu carro não chegou a Aveiro para a sangria final. Mas eventualmente conseguimos vagar o sítio. Melhor sorte a quem lá viver doravante...



O galhardete do Sporting foi o último a sair.

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