terça-feira, 14 de outubro de 2008

megalopropinomania, ou como bolonha matou o ensino superior

Alunos de mestrado no Politécnico de Lisboa contestam “aumento brutal” de propinas

Os 15 alunos do segundo ano do Curso de Mestrado em Teatro da Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa (IPL) afirmam que lhes foi comunicado pela escola, quando faltavam cinco dias úteis para o início das matrículas, que deveriam pagar este ano propinas no valor de 1650 euros, “um acréscimo brutal e inesperado de 73 por cento” em relação aos 950 euros que pagaram no ano passado.

Aquando da implantação de Bolonha, muita gente denunciou este processo como um enorme passo em direcção à mercantilização do Ensino Superior. A denúncia mais vocal veio do PCP, como seria de esperar. Assim todo os argumentos foram descartados pelo simples facto de emanarem do "cretácico" Partido.

Há uma semana, estava eu em Lille numa conferência sobre mobilidade no Ensino Superior. Li muito papel e aturei muito painel. Vi malta com a mania que era importante, sobretudo presidentes de associações de estudantes, e vi malta realmente importante, passarões da Comissão Europeia e de variadas corporações relacionadas com a área, à escala europeia. Foi curioso ver todos aqueles engravatados a concluir exactamente as mesmas coisas que o PCP, entre outros, vem defendendo há uma década.

Entretanto, as consequências vão-se fazendo sentir. Estes pobres coitados levam um aumento de propina astronómico, o meu curso ficou partido em dois sem grande coerência, cada vez mais se tenta captar um universo de estudantes não-europeus para lhes cobrar o cu e oito tostões por McCursos, e a tendência universal de desorçamentação do Ensino é tão forte que, brevemente, até na Escandinávia vão começar a introduzir propinas.

A uma ideia boa, a criação de uma Área Europeia de Ensino Superior, englobando 46 países e apoiando-se na Declaração de Bolonha, seguiu-se uma aplicação podre e enganosa, que poderá ter acabado com a mobilidade horizontal (ERASMUS e afins), e perpetuará as diferenças de classe na mobilidade vertical (vulgo ir tirar o mestrado a outro país), elitizando e mercantilizando aquilo que devia ser uma pedra basilar do desenvolvimento das sociedades europeias e mundiais, e idealmente um espaço mais democrático que todos os outros.

Prestes a bater no fundo...

2 comentários:

Bibelô disse...

Caro colega e amigo!
sou um leitor atento do teu blog, como já deves de ter reparado anteriormente.
Parece que os nossos receios e avisos sobre esta lei de propinas se estão a tornar realidade...
Encontro-me em mobilidade num pais de terceiro mundo, como gostam de chamar o brasil. Onde os alunos não têm que pagar propinas, onde o governo decidiu federalizar universidades privadas, para assim aumentar a oferta do ensino superior público e onde os mestrados são feitos pelos alunos quase na totalidade com bolsas pagas pelo governo. Onde a universidade onde me encontro tem um programa de investigação antártico com orçamento superior ao total da investigação investido na UA!?!?!
E Portugal?
Somos um pais com pretensões de primeiro mundo, nascendo para o mercado de trabalho já endividados, com uma economia de segundo e uma consciência social de quarto!!

Continua a lutar!!

Estou quase a voltar, para lutar ainda com mais força e convicção sobre os nossos direitos!! =P
Um grande abraço do outro lado do atlântico.

Simões disse...

Camarada, folgo em saber que estás bem!

Aproveita isso, que aqui está mau e não se aprende nada... abraço!