Começamos com a total subversão das regras democráticas na União Europeia, por imposição dos mercados que nunca nos foram apresentados.
Grupo de Frankfurt, o esquadrão de intervenção da Europa
A antiga Ópera de Frankfurt – em tempos, a mais bela ruína do pós-guerra da Alemanha e agora a sua recriação mais impressionante – tornou-se um símbolo do renascimento europeu. Foi aí que, no mês passado, Angela Merkel e Nicolas Sarkozy se reuniram com a elite burocrática da União Europeia, no que seria, noutros tempos, descrito como um golpe palaciano.
Fartaram-se de cimeiras da zona euro, com líderes vindos daqui e dali, para não chegarem a lado nenhum. Queriam formar um grupo mais pequeno, que exercesse o poder com firmeza, mas informalmente. Nessa noite, quando se reuniram para ouvir Claudio Abbado dirigir a Orquestra Mozart de Bolonha, nasceu um novo esquadrão de intervenção da UE.
(...) Quando Merkel falou, admitiu frustração em relação às cimeiras europeias e aos seus complexos mecanismos democráticos. "A capacidade de intervenção e de margem de manobra da UE revelou-se lenta e complicada", queixou-se. "Se queremos aproveitar a crise como uma oportunidade, temos de estar preparados para agir mais depressa e até de formas não convencionais." Sarkozy chegou atrasado, mas a tempo de participar no concerto da década.
Também presentes estavam o novo presidente do BCE, Mario Draghi, um italiano com pouca estima por Berlusconi. E Christine Lagarde, a nova presidente (francesa) do Fundo Monetário Internacional, que tem comandado as operações de recuperação de países em aflição e que não se coíbe de impor condições humilhantes (como fez com Berlusconi).
Estava José Manuel Durão Barroso, o cada vez mais aniquilador presidente da Comissão Europeia e o seu parceiro para as questões económicas Olli Rehn. O omnipresente Jean-Claude Juncker, primeiro-ministro do Luxemburgo e chefe do grupo das 17 nações da zona euro, apareceu com Herman Van Rompuy, eleito presidente da UE por não ter opiniões sobre nada.
(...) A democracia é vista com desconfiança – até mesmo aversão – pelo Grupo de Frankfurt, tal como pelos mercados. Os pontos de vista pessoais de Juncker sobre os irritantes eleitores ficaram famosos, desde que expressou o problema da governação da seguinte forma: "Todos sabemos o que fazer, mas não sabemos como ser re-eleitos depois de o termos feito”.
Estamos agora a ver uma solução para o problema de Juncker: nomeiam-se vários dirigentes que, logo à partida, não foram eleitos e que não vão andar à procura de votos para nenhuma re-eleição – e põem-nos a fazer o que se pretendia.
Nada neste cenário é perturbador para a maioria dos democratas. Aliás, quem é capaz de imaginar qualquer tipo de problema que possa surgir quando a Alemanha decide subtrair soberania a Estados vizinhos? Não, tudo a bem da Europa dos mercados, nada contra a Europa dos mercados.
Ultrapassada a barreira democrática e traçado o plano de acção, falta conhecer os salvadores das Pátrias que nos pariram. Pesos-pesados capazes de combater a crise.
Goldman Sachs, o banco que nos quer bem
(...) Os seus críticos acusam esta rede de influências europeia tecida pelo banco norte-americano Goldman Sachs (GS) de funcionar como uma loja maçónica. Em graus diferentes, o novo presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, o presidente designado do Conselho italiano, Mario Monti, e o novo primeiro-ministro grego, Lucas Papademos, são figuras totémicas das malhas apertadas dessa rede.
(...) O primeiro foi vice-presidente do Goldman Sachs International para a Europa, entre 2002 e 2005. Era o "associado" que tinha a seu cargo o departamento de "empresas e países soberanos", o mesmo que, pouco antes da sua chegada, tinha ajudado a Grécia a camuflar as suas contas, graças ao produto financeiro "swap" sobre a dívida soberana.
O segundo foi conselheiro internacional do Goldman Sachs, de 2005 até à sua nomeação para a chefia do Governo italiano. De acordo com o banco, a sua missão era dar pareceres "sobre os assuntos europeus e os grandes dossiês de políticas públicas mundiais". Mario Monti foi um homem que "abriu portas", um homem cuja tarefa consistia em penetrar no centro do poder europeu para defender os interesses do GS.
O terceiro, Lucas Papademos, foi governador do Banco Central grego entre 1994 e 2002. Nessas funções, desempenhou um papel não esclarecido na operação de camuflagem das contas públicas levada a cabo com a ajuda do Goldman Sachs. Além disso, o responsável pela gestão da dívida grega é Petros Christodoulos, antigo corretor do banco norte-americano em Londres.
Quem melhor para nos tirar da crise que os indivíduos que melhor a conhecem, por lhe estarem na génese? Mas alguém vê um conflito de interesses aqui? Decerto que não, aliás, o currículo de cada um será incensado por forma a constituir um garante de credibilidade e estabilidade junto dos mercados.
Problema deles? Pois. Nós ainda temos tempo. Mas não muito. Enquanto os amigos do Gaspar vão lavrando caminho, vai ficando cada vez mais claro que não durarão muito no seu poleiro. A receita leva ao desastre, e todos o admitem mais cedo ou mais tarde. Chegando o desastre, os amigos do Gaspar serão apeados, haverá um discurso catastrofista, seguir-se-á uma coligação de Salvação Nacional em que participarão os ex-amigos-agora-apenas-vagamente-conhecidos do Gaspar mais os invertebrados do PS (o P é de partido e o S ficou na gaveta) e a parte mais sumarenta disto tudo é... QUEM SERÁ O ESCOLHIDO?
Procura-se um gajo do partido com maioria no Parlamento, indigitado sem ser eleito (que isso de eleições já não se usa), com currículo, de preferência na Goldman Sachs, que ponha um semblante pesaroso e se encarregue de levar toda a colheita e ainda deite sal na terra para que nada mais lá volte a crescer. E parece que há um que ficou subitamente disponível.
...
Camarada, amigo, palhaço deste circo que é a vida: se chegaste até aqui, parabéns, deves ter sido o único e provavelmente já estavas convencido. Mas enfim, com muita dranguilidade te relembro...
HÁ ALTERNATIVA!
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