terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

deolindices

Esta recente celeuma acerca da canção dos Deolinda mostra bem o ridículo em que esta geração caiu para encarar o tema como um hino revolucionário. Aliás, chamar-lhe hino já é sintomático da pobreza intelectual vigente, e chamar-lhe revolucionário é uma piada de muito mau gosto, sendo também revelador da total incapacidade da parva geração em libertar-se das amarras que a mantêm presa ao fundo deste poço de merda.

Inspirado após a leitura desta excelente posta do Luís Naves, também aproveito para denunciar esta ideia imbecil dum conflito de gerações. Por muita vontade que eu tenha de mandar foder as gerações que andaram a eleger o Cavaco consecutivamente, o que muito me condicionou e condicionará a vida e me dá pouca vontade de andar a sustentar as reformas delas, a verdade é que o problema não é uma geração ocupar o lugar que devia ser da seguinte. Bardamerda. Se fosse esse o problema, a malta nova andava toda a ajudar o avô a sachar a horta!

O que a malta continua a querer não perceber é que quem hipoteca o futuro ao jovem licenciado não é o funcionário público, que por sinal vem sendo saco de pancada vai para mais de dez anos. Quem nos vem fodendo a vida são os Varas e os Mexias e toda a sorte de filhos duma grande puta que sugam esta terra até ao tutano e depois a salgam para que nada mais volte a crescer. Aliás, porque raio é que o Ferreira do Amaral ainda anda à solta?

Mas, sinceramente, quando o jovem licenciado não vota "porque são todos iguais", ou vai votar no Passos Coelho porque descobriu a muito custo que o Sócrates mentiu, e vice-versa, então que caralho de futuro merece o jovem licenciado? Eu quero que o jovem licenciado se foda se é incapaz de perceber a raíz do seu problema.

E acima de tudo, quero que o jovem licenciado se foda porque não só não é capaz de salvaguardar a sua posição, como mesmo que conseguisse nunca seria Homem para defender quem não tem meios para tal. Quem vai viver menos 10 anos que ele, por exemplo.

Como dizia o outro, eu é que não sou parvo. Se querem levar esta merda ao fundo, divirtam-se. Eu abandono. Chamem-me quando for tarde demais, talvez os ratos tenham abandonado o navio e se possa começar de novo.

2 comentários:

Manel disse...

O facto de o hino dos deolinda ser o hino da nossa geração é, de facto, bastante parvo. O resto n sei... colocas a questão como se o mundo se dividisse entre os que votam nos partidos do Bloco Central, e que, como tal, estão errados, e os que votam no PCP (ou BE, mas tenho mais dúvidas se te referes e eles). Independentemente, de o Bloco Central ser o principal culpado pelo estado do país, n podes acusar as pessoas que votam neles de serem imbecis. Se, de facto, defendes uma política de tolerância e igualdade social tens que aceitar que a opção de não votar num partido como o PCP é perfeitamente legítima, nem que seja pelo argumento demagógico, mas inteiramente verdadeiro que a ideologia defendida pelo PCP é a mesma que deu origem a alguns dos governos totalitários mais sanguinários da história. Só isto é, na minha opinião, suficiente para não colocares a questão a preto e branco ou como uma luta entre aqueles que estão do lado do bem e o resto que está do lado do mal. Por fim, duas questões: que partido no pós-25 de Abril deu inicio a um processo massivo de nacionalizações que levaram ao desmantelamento e posterior falência dos poucos grandes grupos económicos que existiam na altura? Não terão esses Senhores, nem que seja só um bocadinho de responsabilidade?
Abraço!

Simões disse...

Manel, não estou a colocar a questão em bem contra mal.

Tenho imenso respeito pelas pessoas que defendem posições diferentes das minhas desde que as sustentem e não coloquem em causa princípios que considero basilares. Felizmente, tenho oportunidade de discutir com muita gente que se opõe frontalmente às posições que costumo assumir, e é bem frequente que todas as partes envolvidas terminem a conversa com mais algo em que pensar. Não assumo que as pessoas mudem de ideias, mas pelo menos os horizontes tendem a ficar alargados.

O que me irrita solenemente é a preguiça mental e a consistente tortura à mais elementar lógica. Mete-me nojo a demissão dos media (ou mérdia, como diz um amigo meu) do seu papel de vigilância dum regime que se pretende democrático (aliás, costumo bater bastante nessa tecla) e a forma como a malta, na sua esmagadora maioria, acredita em tudo o que lhe dizem, sem parar para pensar naquilo que são, muitas vezes, contradições flagrantes no discurso político que abunda no Bloco Central.

Respeito muito o PCP e os seus militantes que se dão ao trabalho de lutar por aquilo em que acreditam de forma abnegada. Mas não estou ligado ao PCP porque ainda há muito otário preconceituoso lá dentro. A relativização e negação dos crimes cometidos por regimes intitulados comunistas (isso dava outra conversa bem extensa) é uma das coisas que mais me incomoda. No entanto, isso não invalida que seja tipicamente o PCP a apresentar soluções mais sustentadas: enquanto a validade dos argumentos é sempre objecto de discussão, exige-se fundamento para qualquer proposta.

Só peço que o pessoal PENSE em vez de se deixar empurrar para o abismo, arrastando-me com eles. Tu és, felizmente, uma saudável excepção, entre muitas cuja companhia procuro cultivar.

Razão. Liberdade. É simples.

Abraço!